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O Linchamento (de Saddam Hussein) “Ocidental"


É óbvio que a queda do "muro" deu lugar a duas realidades no espaço a que após a "segunda guerra" se chamou mundo ocidental. A da Europa, mais ou menos coincidente com a União Europeia, e a do triunvirato constituído pelos Estados Unidos da América, Inglaterra e Austrália. É esta realidade que globalizando-se, esquece princípios e valores, nomeadamente quando os pretende impor aos outros mas a parecer-se mais com estes. No fundo, sacrificando a força dos valores aos valores da força e a dignidade dos princípios à indignidade dos comportamentos.
O “julgamento” de Saddam Hussein, é o exemplo disso mesmo.
Levado à prática em nome da justiça internacional, ficará marcado como retrato de barbárie e de indignidade. E nem se diga que tal julgamento e execução foi da responsabilidade dos iraquianos. Sendo como tal apresentado, por traz teve porém a "justiça internacional" encomendada ponto por ponto por Washington, Londres e Camberra, quer nos crimes a julgar, nos juízes a nomear, na tramitação processual, na farsa do julgamento e dos recursos, nos termos da sentença e até no momento da sua execução. Foi em resumo um fartar de vilanagem, onde a farsa que se passou foi guiada de milhares de quilómetros de distância.
Saddam Hussein (como Hitler, Estaline, Pinochet e outros), todos o sabemos, devia ser julgado e por todos os seus crimes. Montou-se a farsa, e apenas se “julgou” o menor . Para traz, ficaram dezenas de outros, com milhares de vitimas, onde os americanos foram cúmplices e, directa ou indirectamente seus autores ou instigadores.
Justiça impossível? Mas então onde está o primado do direito e a garantia de uma justiça independente? E a pergunta tem de ter resposta na medida em que os encenadores e carrascos do acto terão, mais tarde ou mais cedo, de ser julgados.
Não será pois por Saddam Hussein que os sinos dobram.
Os sinos já dobram pelo ocidente angloaustroamericano.
E por nós dobrarão também se nos calarmos.
 
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